sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um elogio de ouro

Em uma das oficinas que fui, durante a Feira do Livro de POA, escrevi uma crônica. A proposta era essa mesma. Moacyr Scliar estava coordenando a atividade. Um receio passa pelas nossas sensações, afinal de contas, Scliar analisará nossos escritos. Tomei coragem e li. Vou postá-la aqui, e abaixo seguem as críticas feitas a meu texto por esse grande escritor. Antes, contudo, gostaria de esclarecer que Moacyr me disse: "TU ESCREVES MUITO BEM". Agora podem fazer qualquer crítica que não me importo.
Ah, outra ressalva que faço, é que no texto que levei no dia, uns minutos antes de ler, fiz algumas alterações que aqui não aparecem. São detalhes, mas sabemos que se tratando de palavras detalhes tão pequenos assim também não são.

Aqui me ponho a escrever, bem acomodada na cadeira, em frente ao computador. É tarde da noite, é sábado e o que prevejo sempre para este momento um tanto duradouro (a noite de sábado em casa) é uma certa frustração e distância - quanto maior, melhor - do computador. Hoje está sendo diferente.

E aí surgem milharais – como diz Fifi – de textos nos meus pensamentos, loucos de vontade de transformarem-se em linguagem escrita portuguesa.

Vejamos como acontece o meu texto. E sobre ele sei tanto quanto vocês: nada.

O primeiro assunto da fila, aqui na minha cabeça – porque a fila não está organizada de forma nenhuma, nem por importância, nem pela altura dos assuntinhos, nem pela idade, tampouco pelo sexo, como fazíamos na escola – é sobre a nossa intolerância com a tal dita melhor idade.

Preste atenção, ledor de meu texto, não farei aqui uma análise filosófica ou crítica sobre a falta de respeito ‘para com’ os idosos de maneira geral, ou então sobre aqueles fatos de que há testemunhas o suficiente para confirmarem ações de desrespeito aos nosso velhinhos. Relatarei o que vivi. E o que me incomodou.

Estou eu participando avidamente das oficinas relacionadas à literatura, que são promovidas pela Feira do Livro de POA (56ª edição), por uma exigência acadêmica. É o tipo de dever que não admite queixas, pois prazer assim é quase uma poesia. Depois de passar por alguns inconvenientes, que agora não os cabe contar, assisti a três encontros com o professor Peixe, nos quais discutimos crítica literária.

Pois bem, e daí. E daí que o público todo era ligado à faculdade de letras. Na sua maioria jovem, mas, contrastando-nos, havia também pessoas idosas. Um senhor e uma senhora, para ser mais específica.

Prestei mais atenção a essa senhora, pois a tal velhinha não deixava de dar seus palpites até mesmo quando Peixe não nos indagava. Muitas vezes foi pertinente o que disse, mas a gente sabe que o que sobra, sobra. E que o melhor é que não sobre, e faltar nesse caso, não seria tão mal assim.

Bueno, a coisa é que me peguei escrevendo, atrás da folha que ganháramos no início da oficina, como forma de recadinho, aos meus colegas, assim: “sempre há um dos participantes a ser inconveniente, sempre.” Imediatamente senti uma culpa. E segui escrevendo, porém dessa vez era um texto para meu blog. Publiquei no papel, naquele momento, alguns pensamentos para que não os esquecesse posteriormente.

Ela tem 77 anos, formada em filosofia, deu aula em algumas muitas áreas, terminou a pouco a faculdade de psicopedagogia, ficou seis anos dedicando-se aos netos, e especialmente a um deles que é cadeirante (se não me equivoco) e por isso se tornou uma defensora das causas relacionadas à inclusão. De tudo isso ficaram sabendo seus colegas da oficina.

Então me pergunto: Será que somos nós “jovens” que temos o medidor de paciência regulado diferente do dos mais velhos? Será que somos nós “jovens” tão intolerantes com esse novo ritmo adquirido pelos participantes da terceira idade? Ou será que essa senhora era realmente inconveniente?

Não sei a resposta. Devo eu ter mais contato com eles para saber. Com eles, os velhinhos. Mas então, seguindo essa premissa, já poderia dar-lhes outro exemplo. O mesmo aconteceu em uma outra atividade que reunia na sua maioria jovens. A senhora que compunha o grupo tinha 84 anos, e quando chegou sua vez de falar acabou por dizer além do necessário, fugindo do assunto, do mote da atividade.

Que necessidade é essa que têm esses mais velhos de contar suas experiências mesmo quando não perguntamos por tais? Porque, penso eu, se existe necessidade é porque provavelmente não lhes dão espaço. Imagine você, quanto não teria para contar-nos uma velhinha de 84 que se declara feliz por ter vivido sua vida como viveu e que adora bater fotos, que foi o que fez durante o restante do evento.

Imagino eu que experiência seria registrar esses seus relatos, com a paciência que uma jovem deveria ter. O que teremos nós para contar, e para quem o contaremos?

Seremos terceira idade com blogs e espaço alternativos para a velharia? Provavelmente sim, afinal de contas é mais fácil ler. Mas parece-me que é necessário muito mais tempo para a aquisição da paciência do exercício ouvir.

Depois de elogiar-me (hehehe), dizendo que escrevo muito bem e que meu texto é bastante pertinente, Moacyr falou que a minha introdução está muito grande e que se fosse para um jornal deveria eu retirar essa parte do texto, chegando mais diretamente ao mote da crônica. Inclusive disse que essa introdução daria um outro texto.
Explicou-me também alguns dos motivos do porquê dos idosos se comportarem assim e que eu deveria expôr esses motivos no meu escrito. Salientou que esse assunto é muito pertinente a uma crônica, pois é extremamente atual, e uma crônica se trata disso, tem de falar sempre de assuntos atuais, pegando leve, senão corre o risco de virar artigo de opinião.
Aprendi muito com essa oficina. E depois desse elogio e dessas aparadas do texto que me sugeriu Scliar, só me motivo mais a escrever.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

de Clarice

E por estar imersa em Clarice Lispector, escrevi:

Eu em mim
Onde em mim
Onde

A geografia da Terra
é pequena
Não sou daqui
Não é aqui

O desejo é aproveitar
a viagem maior
A ordem é me aproveitar

da viagem maior
O espaço terreno é pequeno
O meu em mim eu intuo

Sensação de dever ter que fazer
viagens dentro da viagem
Não darei conta nem de uma
nem de outra

Não quero dar conta
Não quero dar contra

Vou indo
porque sei que irei

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tradução literária

Feira do Livro de Porto Alegre. É a 56ª edição.
Inscrevi-me em várias oficinas e em um seminário. Todos relacionados à literatura. O primeiro foi sobre "Tradução: um mal necessário", com o professor Ernani Ssó. As oficinas estão ocorrendo no CCC Érico Veríssimo.
Esta primeira oficina aconteceu nesse final de semana de feriadão que passou, de sábado a segunda-feira. Fiz com muito prazer as viagens no direto até Porto Alegre e, no caminho, ia lendo Cortázar. Formamos um grupo bem homogênio. O professor Ernani estava extremamente à vontade conosco, o que fez com que as nossas reuniões fluíssem bem.
Como tenho grande interesse no campo da tradução, não poderia faltar a esta oficina. Dou a garantia de que ela foi de fundamental importância para quem participou. Até mesmo porque não há muitos espaços de discussão para quem trabalha com tradução. Nessas reuniões tratamos e discutimos os textos já traduzidos, do espanhol para o português, já que esta é a área de atuação do professor, mas que desta forma abrangeria quem traduzisse qualquer língua.
Discutimos muito o vocabulário comum à tradução. E do que eu desconfiava foi confirmado: de que o importante é dar o mesmo sentido ao leitor da língua traduzida, e não a fidelidade literal com as palavras do texto.
Como disse o professor Ernani, 'temos de ser fiel a Dom Quixote e a Sancho Pança, mais do que a Cervantes". E é exatamente isso. Que o leitor da língua original da obra escrita e o leitor do texto traduzido tenham a mesma sensação, sentido, sensibilidade ao ler. Isso é o que importa.
Há pouco, li Alice no País das Maravilhas e também Peter Pan, com a tradução de Ana Maria Machado, recomendadíssima pela minha professora Mara Jardim. Explico por que: esta tradução é totalmente adaptada ao leitor brasileiro. Por exemplo, as cantigas que Alice canta e que fazem parte da sua infância são as nossas infantis conhecidas no Brasil. Não teria o mesmo impacto a Alice lembrar de cantigas infantis em inglês, não nos causaria a mesma sensação que o autor pretendia ao escrever sua obra.
O resumo da ópera é que a tradução deve ser feita para o maior entendimento do leitor, devemos ser fiel à emoção da obra. Eu, como futura tradutora em potencial, seguirei o que já seguia intuitivamente: ser leal à essência da obra e não às palavras.