quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fernando Pessoa foi quantos mesmo?

Nosso gênio da literatura portuguesa, Fernando Pessoa, foi ele e mais 72, como mínimo. De todos esses heterônimos e semi-heterônimos criados são estudados principalmente três: Alberto Caeiro, considerado o mestre, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Esse primeiro texto tratará daquele que principiou tudo.
FP Na sua poesia trata de emoções, dos estados de espírito, da saudade de algo que não sabe quê, baseando-se muito na teoria de Platão; assim como é saudosista ao falar dos mitos de Portugal; contempla aspectos exotéricos; escreve poemas interseccionistas e também uma poesia cerebral, pensada.
Pessoa nasceu em 1888, em Lisboa, e viveu durante 47 anos. Solitário , direcionou e sublimou toda a sua energia na poesia. Foi chamado de poetodrama, para ele existia esse mistério., uma grande incerteza de tudo. Também produziu muito em língua inglesa.

Um poema.

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com a imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa é nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pode ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Conversa sobre o tempo


Ontem, assistindo ao Jô Soares, porque mais uma noite fui dormir tarde, vi que seriam entrevistados o Fernando Veríssimo e o Zuenir Ventura, que escreveram um livro de conversas entre amigos, ou seja, entre eles: Conversa sobre o tempo.

Eu já conhecia a obra, já havia pegado na mão. Uma colega da faculdade contara-me que foi na casa dele pra fazer uma entrevista. Trouxe de lá o livro com que ele a presenteou com uma dedicatória. Isso tudo antes do lançamento.

Fiquei curiosa pra ler aquele texto conversa – bate-papo – entre amigos de anos, que provavelmente já sabem mais ou menos o que um e o outro pensam sobre o que foi tratado no livro.

Contaram no programa do Jô que a ideia foi da editora, que permaneceram durante alguns dias, em um sítio afastado, e que a partir dos assuntos estabelecidos os amigos iam filosofando.

Fico com a curiosidade desta leitura, e compartilho dela com você, leitor. Quem ler primeiro vem aqui e escreve. Combinado?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um pouco de Bocage

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura,
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas.

Se acusas os mortais, e os não obrigas,
Se, conhecendo o mal, não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura;
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projeto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.

Óleo de Fernando dos Santos -1935

Bocage, que viveu no século XVI, pertenceu primeiramente ao Arcadismo, escrevendo uma poesia bucólica e pastoril, arraigada na métrica e na forma clássica, invocando deuses, utilizando-se da mitologia. Mas ao longo da sua vida, sua arte foi transformando-se. Sua poesia muda de temas, mas seguem as formas e a métrica.
O poema, que temos acima, retrata um momento bem romântico, onde Bocage quer permitir-se a loucura, deixar de lado a Razão, essa tão evidente no Arcadismo. Possuindo essa mistura de características entre árcade e romântico, é considerado um poeta pré-romântico.
Thais Deamici

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Triunfo da Morte

Mais uma leitura feita. Esta foi o “Triunfo da morte”, de Augusto Abelaira, nascido em Portugal, em 1926. O livro data de 1981.

Como meu colega de Letras Levi acredita, eu também penso que uma leitura vale a pena e é boa quando podemos relacioná-la com outras, quando nos fazem pensar em questões antes impensadas, e ao menos no meu caso, quando provoca a vontade de escrever sobre tal.

E exatamente assim aconteceu com O triunfo da morte.

Apesar do título nos parecer à primeira vista um pouco mórbido, o livro é cômico e ao mesmo tempo filosófico. Características que me fizeram recordar (porque recordar é lembrar com o coração) de Viagem ao Redor do meu Quarto e de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Aliás, vários outros aspectos tornam essa obra semelhante a estas outras duas que citei. A ver algumas delas:

· A falta de linearidade narrativa, afirmada claramente pelo autor, no seguinte trecho:

Repito, repetirei tantas vezes quantas as necessárias, não sigo em linha recta, sinto-me incapaz. Ainda que quisesse, e uma certa embalagem de ordem estética não me obrigasse a graduar a intensidade narrativa, a abrir parênteses, a adiar certas revelações, estimulando assim a tua curiosidade, não saberia seguir direito. Consciente embora de tudo quanto vou dizer, jogo comigo próprio como se tudo ignorasse.” (p.116)

· O ato filosófico de refletir e problematizar questões cotidianas.

· O invento do sumo de burujandu e da carne de pterorassauro da onde parte inúmeras explicações para a variação do comportamento humano, como por exemplo, o motivo pelo qual os homens se atraem pelas mulheres e vice-versa.

Escrevendo dessa forma, parece absurdo, mas em cada afirmação de teoria há uma explicação que a justifica. E creia-me, é capaz de convencer-nos.

· O narrador fala a todo momento com o leitor. Praticamente um diálogo.

Todas essas questões citadas acima são também evidenciadas, como já dito d’antes, em M.P.B.C., de Machado de Assis, e em V.R.M.Q., de Xavier Maistre. Porém, no que se refere à morte, Triunfo me fez lembrar a obra de Saramago, Intermitências da morte. Abelaira questiona a morte, a problematiza e dramatiza.

Obviamente, apesar de relacionar o livro com outras obras, tem bem recortada a sua singularidade. Um exemplo disto é a nota do editor, onde é explicado como foi escrito o livro.

Este editor conta que encontrou fitas cassetes por aí. Ouviu-as e editou aquilo que escutou, tal e qual, exceto os ruídos. Simples assim.

Claro que aqui oferece ao leitor as suas hipóteses sobre origem e conteúdo do texto. Curiosamente nota-se o mesmo perfil literário do autor. Por que será? Sentiu-se ele influenciado, ou trata-se da mesma pessoa?

Bueno, queda aí mais uma sugestão de leitura.

Sá da Costa Editora

2ª edição – julho de 1981

Este é o Abelaira.

Thais Deamici