Infância é uma narrativa incrível. Enquadra-se nas características do Romance de 30, apesar de ter sido escrito em 1945. Há uma crítica social sobre as regiões do Brasil e a valorização do vocabulário local, é o neorrealismo.
O restante eu deixo para que vocês descubram e saboreiem. Aqui estão dois trechos da obra.
Meu pai e minha mãe conservaram-se grandes, temerosos, incógnitos. Revejo pedaços deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem lábios, mãos grossas e calosas, finas e leves, transparentes. Ouço pancadas, tiros, pragas, tilintar de esporas, batecum de sapatões no tijolo gasto. Retalhos e sons dispersavam-se. Medo. Foi o que me orientou nos primeiros anos, pavor. p.14 Infância
Aos nove anos eu era quase um analfabeto, e achava-me inferior aos Mota Lima, nossos vizinhos. Muito inferior, construído de maneira diversa. Esses garotos, felizes, para mim eram perfeitos: andavam limpos, riam alto, frequentavam escola decente e possuíam máquinas que rodavam na calçada como trens. Eu vestia roupas ordinárias, usava tamancos, enlameava-me no quintal, engenhando bonecos de barro, falava pouco. p. 205 Infância